1976 / EUA / 98 min / Direção: Brian De Palma / Roteiro: Lawrence D. Cohen (Baseado no livro de Stephen King) / Produção: Paul Monash, Brian De Palma (não creditado), Louis A. Stroller (Produtor Associado) / Elenco: Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving, John Travolta
Muita coisa pode ser dita sobre esse filme de Brian DePalma, como sendo seu primeiro grande sucesso comercial e também ser um das melhores obras de Stephen King que foi adaptada. “Carrie” custou apenas “2.500 dólares” para ser adaptada e então ai veio o estouro para o sucesso. Rapidamente a “United Artist” recuperou o dinheiro do filme e em apenas 2 semanas de exibição o lucro do filme chegou a 33,8 milhões de dólares, lembrando que para 1976 isso era um fenômeno e ficou como um dos filmes mais lucrativos do ano.
Se analisarmos a carreira de DePalma, vemos que ele homenageia certos diretores. Via claro a cena de “Os Intocáveis” com o carrinho de bebe, que claro é uma referencia direta ao “Encouraçado Potenkin” do Eisenstein. Como em Carrie, onde ele demonstra todo seu amor a Alfred Hitchcock. Desda fotografia que lembra muito os filmes do mestre do suspense, até a trilha sonora que os acordes foram copiados descaradamente de “Psicose” , e também os lugares por onde os personagens passam que está escrito “Bates“.
Mas sempre achei uma injuria meterem pau em Brian DePalma por fazer essas certas “homenagens” viver de homenagens não é para cada um quando bem trabalhadas. Visto claro por Woody Allen, um amante do cinema clássico e do europeu ou até nosso amigo Quentin Tarantino, que sempre homenageou ou até copiou quadro por quadro filmes trash, filmes b de kung-fu e etc. E isso deixa eles como diretores horríveis? Claro que não! Uma prova de como o diretor coloca sua marca no filme, é o crescente suspense que ele deixa em todas as cenas e também como DePalma trabalha muito bem com o terror ao mesmo tempo com a inocência e paixão em “Carrie – A Estranha“.
A história de Carrie, continua sendo atual até os dias de hoje. Principalmente quando tocamos em assuntos como religião, abusos e também o bullying. Algo muito discutido na sociedade de hoje. Uma das causas de Carrie ser o que é, talvez é tocar em assuntos como esses. Isso claro é uma coisa que o terror consegue tocar, em abordar esses temas bizarros, antes do drama que temos hoje em dia. A liberdade de expressão vinha por filmes que ninguem ligava. É só analisar filmes como “O Exorcista” que vemos uma mulher separada e dona do seu próprio negócio, “Invasores de Corpos” de 1979, onde o diretor Phillip Kaufman trata assuntos como a AIDS de um forma menos explicita. A forma como vemos a Carrie é por conta desses problemas que enfrentamos na sociedade de hoje em dia. O forte querer dominar o fraco.
A história de Carrie (Sissy Spacek), mesmo para quem nunca assistiu ao filme, deve ter visto certas cenas. Como a famosa cena do banheiro. Mas antes o diretor nos apresenta nossa protagonista. Carrie está na aula de educação física e já vemos que ela é tímida e não se entrosa com ninguém. E quando vemos a “famosa cena do banheiro”, as coisas começam a se tornar mais complicadas. Primeiro porque Carrie está tomando banho e ela menstrua pela primeira vez. E ela não sabe o que é isso, então as meninas da sala começam a zuar com ela e a jogar absorventes, isso mostra o “bullying” agindo quando o mais fraco é acuado por um grupo e nisso quem comanda aquilo é a vilã do filme Nancy (Chris Hargensen). Aos poucos vemos que a vida da pobre Carrie é um inferno, primeiro por sofrer na escola por conta de algumas pessoas e depois na casa dela por conta da sua mãe que é uma religiosa fanática e também proíbe Carrie de fazer qualquer coisa e claro tem o discurso pronto dizendo que tudo é obra de satã! Tem coisa mais atual que isso?
Mas o ponto alto no filme são os poderes que Carrie acaba descobrindo, ao certo não sabemos de onde eles vem. E na verdade nem interessa, porque aos poucos sabemos que ela veio através de sua família e também pode ser por motivos religiosos. Não sabemos realmente e que deixa as coisas mais legais para pensarmos “pós-filme“. O curioso é que o filme tenta ser neutro em algumas questões e nos aproxima muito nos problemas pessoais da Carrie. Quando as meninas que são castigadas por terem zuado no vestiário são punidas a única que não aceita aquilo é Nancy que vai fazer uma vingança e também humilhar a pobre Carrie para valer. A única arrependida é Sue (Amy Irving) que começa a tratar bem a moça e empresta seu namorada para que ele vá ao baile com Carrie (realmente não vi muito sentindo nisso, mas né?)
Tommy (William Katt) é um bom moço e quer fazer a vida de Carrie melhor e assim a convida para o baile. E assim temos a famosa cena do baile, onde o latão de sangue de porco cai sobre a moça e temos aquele caos instaurado na festa. Para mim um dos pontos altos em efeitos e também de cenas na história com cinema. Vemos a pobre moça mostrando todo o seu poder e assim, literalmente colocando para quebrar naquele lugar.
A história de Carrie, é um dos melhores contos da história do cinema. Cheio de subtextos, uma câmera feroz e ótimo elenco esse filme mostra porque veio e também porque íamos ter uma caralhada de obras do Stephen King sendo adaptadas nos anos que iam vir. Brian DePalma arrasa nessa obra e também mostra que fazer homenagens certas é fruto de coisas maravilhosas como o próprio “Carrie – A Estranha”.
Nota:
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